Extremos da Tolerância Humana

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O que pode ter acontecido com Peter Tripp?

Antes de ler esta postagem, ver "Entendemos um pouco do sono. Mas..."

Parece ser relativamente estranho acontecerem tais consequências, tais como alucinações e queda da temperatura corporal. Existe uma série de estudos que relacionam os efeitos hormonais e fisiológicos aos acontecidos com Peter Tripp. Na área de privação de sono, o Brasil possui vários artigos importantes para o entendimento do assunto. 

Primeiro, expliquemos fisiologicamente o que pode ter acontecido com o corpo de Peter. Um dos efeitos foi a queda de temperatura média corporal. Se olharmos bem a época do experimento rapidamente verificamos que nos EUA era inverno, o que naturalmente influenciou o experimento. Mas ao olharmos um estudo feito por mexicanos da Faculdade de Medicina do Distrito Federal do México, vemos que ratos que estavam privados de sono, apresentaram o mesmo sintoma. A explicação deles é relativamente simples, quando dormimos, o gasto de energia é naturalmente menor, ao mesmo tempo em que a atividade catabólica é desacelerada.

Com a privação de sono ocorre exatamente o contrário, fazendo com que o corpo necessite de maior ganho de energia, fazendo com que os ratos comam mais. Se há controle da quantidade de comida ingerida pelos ratos, há uma degradação lipídica, comprovada pela quase inexistência de tecido adiposo nos ratos, e um aumento da degradação protéica, comprovado pelo aumento de uréia circulante no sangue. Assim, com menor proteção pela camada lipídica, o corpo fica mais suscetível a mudanças de temperatura, que no caso eram para menos em Peter Tripp. Para a explicação das alucinações, como há um desgaste neuronal, de acordo com o passar dos dias, ele estava realmente mais propenso a sofrer alucinações que está relacionado a uma comunicação falha entre os neurônios, causando sensações diversas.

Mas o que nos interessa na verdade é a parte bioquímica da privação de sono. Segundo um estudo feito pelo Instituto do Sono, a privação de sono causa a alteração da concentração hormonal sanguínea. Entre os hormônios afetados, são ACTH, corticosteróides (cortisol), noradrenalina e dopamina (catecolaminas) os afetados mais importantes. Vejamos primeiro como atua a noradrenalina no sono. Este hormônio/neurotransmissor é sintetizado pela glândula supra-renal em condições de estresse e pelas fibras pós-ganglionares simpáticas neuronais.

Quando da privação de sono, como no caso de Peter Tripp, pode-se também 
aumentar a carga de estresse também por outros mecanismos que já vão ser explicados. Isso faz com que a concentração plasmática do hormônio aumente. Este pelo mecanismo aqui explicitado acelera a produção de NAT que é a enzima que converte serotonina em N – acetilserotonina. 
Isso faz com que o corpo assim que haja um período maior de fechamento dos olhos, rapidamente possa formar melatonina, criando um ambiente favorável ao sono, um dos fatores causadores da sonolência. 

Agora, talvez o mais interessante seja estudar o aumento do hormônio ACTH. O ACTH é “um polipeptídeo, com trinta e nove aminoácidos, produzido pelas células corticotróficas da adenohipófise. Atua sobre as células da camada cortical da glândula adrenal, estimulando-as a sintetizar e liberar seus hormônios, principalmente o cortisol, também estimula o crescimento desta camada.”(1)Normalmente ele apresenta um ritmo circadiano, como a melatonina, mas de forma contrária. O ACTH possui suas maiores concentrações aos primeiros momentos após uma pessoa acordar. Como Peter estava sempre acordado os níveis de ACTH, que também estão relacionados ao estresse (mais altos nele), ficaram altos constantemente. Dessa forma, o cortisol também eleva suas concentrações plasmáticas, causado pela cafeína da mesma forma. O cortisol tem várias atuações, entre elas, a diminuição da síntese protéica e a inibição da absorção de aminoácidos pelas células causando um caso de maior degradação do que síntese de proteína. Assim, Peter alcançou depois de alguns dias um estado de queda de massa muscular, uma das razões da queda de temperatura do corpo de Peter, ou seja, um fator gradual.

Também se pode pensar no fato de que, se há maior degradação protéica, durante um grande período de tempo, com certeza haverá alguma consequência neuronal, pois a criação de novas conexões cerebrais fica afetada, o dito desgaste neuronal. Podendo isso ser a causa nas alucinações vistas pelo DJ.

Existe uma série de outras proteínas que poderiam ser estudadas, de acordo com um estudo da Sociedade Fisiológica Americana, cerca de 2400 genes relacionados ao sono tem sua atividade alterada pela privação de sono. Aqui apresentamos apenas alguns. Que as informações tenham sido úteis para o melhor entendimento de algo que é tão presente na nossa vida..

Referências:

-http://pt.wikipedia.org/wiki/Hormônio_adrenocorticotrófico (Versão em inglês também)

-http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/42/42137/tde-16092008-113515/

-http://www.sono.org.br/pdf/2005%20Andersen%20J%20Sleep%20Res.pdf

-http://www.cerebromente.org.br/n16/opiniao/seven-ways3.htm

-http://www.revneurol.com/sec/resumen.php?id=2005285

-Macromolecule biosynthesis - a key function of sleep. Artigo em PresS. Physiol Genomics (August 14, 2007).

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posted by Vinícius Alves Bezerra at 15:40

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