Extremos da Tolerância Humana

A dor:

"Dor: sensação de sofrimento, decorrente de lesão e percebida por formações nervosas especializadas." (FERREIRA, 2000, p.245).

"E Deus à mulher disse: Multiplicarei grandemente a sua dor..." (Gênesis 3:16).

"Experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial, ou descrita em termos de tal dano". (IASP - Associação Internacional de Estudos da Dor).

Não existe um conceito claro para a dor. Para alguns, ela é fruto apenas de alterações bioquímicas e fisiológicas do corpo. Para outros, ela é causada por um fator místico/religioso. Muitos afirmam que sua origem está no pensamento, sendo algo subjetivo. Apesar de não se definir um conceito concreto, o ser humano sempre lançou mão de artifícios para combater tal sofrimento. Hoje, a ciência tem uma variedade de fármacos para tal fim.

Dentre os cinco medicamentos mais vendidos em todo o mundo, quatro são analgésicos: a dor movimenta uma indústria de bilhões de dólares anualmente. Graças a utilização dessas substâncias, o homem é capaz de combatê-la e até mesmo vencê-la. Os analgésicos podem atuar bloqueando a dor de três maneiras diferentes: interferindo na trasmissão dos impulsos nervosos atuando diretamente na origem, no caminho bioquímico ou no sistema nervoso central (SNC).

Entre os medicamentos que atuam diretamente no SNC, destaca-se a morfina. No entanto, os analgésicos mais comuns atuam no processo bioquímico, sendo na transmissão ou na propagação do impulso. Neste grupo, se encontram os analgésicos mais vendidos em todo o mundo: AAS - Ácido acetil salicílico (aspirina), Ibuprofen e Paracetamol. Estas drogas interferem na síntese de prostaglandinas - um grupo de hormônios envolvidos em vários processos fisiológicos, incluindo a inflamação. A aspirina, por exemplo, inibe duas versões da enzima ciclooxigenase (Cox-1 e Cox-2) que são responsáveis pela produção desses hormônios. Quando um tecido é lesado, as suas células liberam prostaglandinas as quais aumentam a sensibilidade dos nociceptores (receptores para a dor). Hipersensibilizados, os nociceptores são capazes de transformar em dor qualquer impulso, mesmo que que ele seja mínimo. Esse mecanismo de defesa é conhecido como hiperalgesia. Um exemplo desse fenômeno é a dor sentida após um simples toque sobre a pele queimada.

A figura mostra a produção de prostaglandina a partir do ácido araquidônico pela ação das enzimas Cox-1 e Cox-2. Após algum estímulo, seja físico, químico ou hormonal, o ácido araquidônico é mobilizado da membrana pela ação de fosfolipases A2, as quais sofrem ativação direta pelo estímulo doloroso, ou são ativadas por concentrações citosólicas aumentadas de Ca+2. Acredita-se que estímulos físicos (por exemplo um trauma), ao alterarem a membrana celular produzam um influxo de Ca+2 o qual ativa a fosfolipase A2. Note que existem vários tipos de prostaglandinas.

Esta imagem mostra os pontos de inibição da via de produção das prostaglandinas. Os corticoesteróides inibem a fosfolipase A2. Na figura, os NSAIDs (Non-steroidal anti-inflammatory drugs) representam analgésicos, como a aspirina que age inibindo a enzima ciclooxigenase.

Como foi visto, a utilização dos analgésicos mudou as perspectivas de vida dos seres humanos. A aplicação deles hoje permite uma melhor qualidade de vida e uma possibilidade maior de sobrevivência à situações extremas; desde que o seu uso seja de maneira orientada.


Referências
http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/dor/o_que_eh_dor.htm
http://www.uff.br/mfl/outras_disciplinas/med_integral_infancia_adolescente/cox2.htm
Imagem 3: http://www.javeriana.edu.co/academiapgendodoncia/media/fotos/revi/revi34/revi34_2.jpg
Imagem 4: http://www.educa.madrid.org/web/cc.nsdelasabiduria.madrid/Ejercicios/2b/Biologia/Lipidos/figuras_lipidos/prosta.gif
Imagem 5: http://www.osnsupersite.com/OSNLA_M/200701/raizman1.gif

"A dor enerva a alma, torna-a mais temerosa, degenera-a." (Sheakespeare).